Ha quatro meses à frente da Delegacia Regional de Policia Civil de Pouso Alegre, o jovem delegado Flavio Tadeu Destro ja se tornou um pousoalegrense. Nesta entrevista para o Blog do Airton Chips ele fala um pouco dos desafios e metas da P.C., para prestar um bom atendimento à população, manter a criminalidade sob controle e combater o ‘cancer’ das drogas.
Airton Chips – Qual a maior dificuldade que o sr. encontrou ao assumir uma delegacia regional tão extensa, rica e populosa como a de Pouso Alegre com outras 34 cidades?
Delegado Regional – A Delegacia Regional de Pouso Alegre, justamente por atender 35 cidades, é a maior do Estado. São 14 sedes de comarca. Destas, apenas uma não possui Delegado de Polícia Titular. Gerir e administrar uma Regional deste porte exige dedicação em tempo integral. Todos os problemas, que não são poucos, toda demanda de pessoal, toda demanda de polícia judiciária e toda logística para fazer funcionar as Delegacias destas cidades são de responsabilidade do Delegado Regional. Por sorte, conto com o apoio e supervisão do Chefe do Departamento, Dr. João Eusébio Cruz, que foi meu antecessor na Regional e conhece muito bem os problemas da região, o que é fator facilitador para minha administração. Soma-se a esses fatores a grande área territorial que faz divisa com o Estado de São Paulo, o que necessariamente traz impactos nos índices de crimanalidade da região. Esses fatores, quando somados, nos dão a noção da complexidade que é estar à frente de uma Delegacia Regional como a de Pouso Alegre. Existem Departamentos de Polícia Civil espalhados pelo restante do Estado que são menores que a nossa Regional. Por conta de todos esses indicadores, não resta dúvida que estar como Delegado Regional em Pouso Alegre dará uma bagagem e experiência necessárias para continuar trilhando a carreira, para quem sabe, no futuro, almejar desafios ainda maiores.
A.Chips – Vimos Pouso Alegre crescer em todos os sentidos, inclusive em criminalidade. Temos no entanto, atualmente um indice muito baixo de crimes violentos, especialmente de homicidios – foram somente 9 no ano passado – A que o sr. credita este indice positivo?
F.T.D. – Ao trabalho realizado pelas Polícias Civil e Militar. Esta por prevenir. Àquela por investigar com afinco os casos de homicídio. Veja bem: a Polícia Civil é uma Polícia de exceção. Isso significa dizer que a regra é a não ocorrência de crimes através de efetiva prevenção, seja Policial ou social. Contudo, por mais que a prevenção seja eficiente, jamais ela conseguirá acabar com o crime. Isso é utópico. Mas sendo a prevenção policial ou social eficientes, o crime acontecerá em menor número. Como estamos falando em homicídio, quanto menor o número de casos maior a possibilidade de esclarecimento da autoria e materialidade, com o consequente julgamento dos autores pela justiça. O que temos experimentado em Pouso Alegre reflete exatamente isso, ou seja, como são poucos os casos de homicídios consumados, a Polícia Civil tem conseguido esclarecer 100% dos casos e com prisão dos autores. E essa sensação de efetiva punição do Estado é o que desencoraja os criminosos. Não posso deixar de reconhecer que o Poder Público em geral tem contribuído sobremaneira com esse baixo índice de crimes violentos, seja através da boa qualidade do ensino público e das demais políticas sociais, seja através do bom trabalho realizado pela Guarda Civil Municipal e também pela efetiva e eficaz atuação do Poder Judiciário e do Ministério Público em nossa Comarca.
A.Chips – O sr. Naturalmente conhece o projeto ‘48 horas’ implantado anteriormente em Pouso Alegre, com otimos resultados. No ano passado, com a carencia de pessoal e uma greve que durou mais de 70 dias, o projeto ficou meio esquecido. O sr. acredita no projeto e pretende reativá-lo?
D.Regional. – Sim, conheço esse projeto. Me lembro que no ano de 2010, quando ainda era Delegado Regional em Ouro Preto, em uma reunião de Chefes de Departamento e Delegados Regionais em Belo Horizonte, o então Chefe do 17º Departamento de Pouso Alegre, Dr. Carlos Eduardo Pinto, apresentou aos presentes o Projeto 48 horas. Confesso que fiquei impressionado com a qualidade do Projeto, mas principalmente pelos resultados obtidos. Recordo-me que no primeiro trimestre de 2010 nenhum caso de homicídio havia sido registrado em Pouso Alegre. Em situação normal, nenhuma cidade brasileira, com população semelhante a de Pouso Alegre, registraria índice zero de homicídio em espaço grande de tempo com esse. Mais importante que garantir a apuração de 100% dos casos, é não haver homicídio a se apurar. E esse Projeto fez exatamente isso: impediu, através da prevenção eficaz e também da apuração eficaz, a prática de delitos de homicídio. Para o sucesso do Projeto, contudo, há que se deslocar policiais em número suficiente para dar pronta resposta. Embora tenhamos efetivo reduzido, nada impede que esse Projeto volte a funcionar em sua plenitude. Devo registrar que mesmo com efetivo reduzido temos dado excelente resposta aos casos de homicídio que vem ocorrendo em nosso Município.
A.Chips – É publico e notorio que hoje mais da metade dos crimes em todos os quadrantes do país, esta relacionada a drogas. A equipe de combate ao trafico na cidade no entanto, está reduzidíssima, menor do que anos atras. O que o sr. planeja fazer para incrementar o combate ao trafico que cresce dia-a-dia?
D.Regional – A Polícia Investigativa, como é o caso da Polícia Civil, deve suprir sua carência de pessoal usando tecnologia. Estamos na segunda década do terceiro milênio e temos que utilizar os recursos tecnológicos disponíveis a nosso favor. Com o crescente aumento da população, crescem os problemas como desemprego, miséria, fome, o que fatalmente irá refletir na segurança pública. É muito difícil para o Estado contratar funcionários em número que imaginamos ser o ideal. São vários os obstáculos, como questões orçamentárias, Lei de Responsabilidade Fiscal, aposentadorias. O que precisamos é otimizar nossos recursos, colocando a tecnologia para fazer aquilo que demandaria vários servidores. Vivemos hoje a era da informática, da tecnologia de ponta. É impensável uma Polícia Investigativa que não faça uso desses recursos. O combate ao tráfico de drogas, por exemplo, deve ser feito com uso de recursos tecnológicos. O desafio da Polícia Investigativa é exatamente esse: realizar investigações mais eficazes em menor espaço de tempo, utilizando-se de mais tecnologia e menos policiais.
A.Chips – O setor de inteligencia da regional de P.Alegre tem sido muito eficiente e fundamental na apuração dos crimes, mas não sobram policiais para o trabalho de campo, para inibir o crime com a presença ostensiva. Como resolver isso?
D.Regional – Realizar policiamento ostensivo é atribuição da Polícia Militar. Os Policiais Civis continuam a realizar trabalho de campo como sempre fizeram. Só que o trabalho de campo realizado pela Polícia Civil não pode e não deve ser ostensivo, já que nossos policiais trabalham de forma velada. Após todo trabalho realizado, caso seja necessário, nossos policiais saem uniformizados em diligências, não com finalidade ostensiva, mas sim repressiva.
A.Chips – Pequenos roubos à estabelecimentos comerciais, praticados por motoqueiros, dificultando com o capacete, sua identificação, tem se tornado corriqueiros na cidade e região. O que a policia civil e a população podem fazer para evitar esses roubos e acabar com a farra destes assaltantes?
D.Regional – Estamos intensificando as investigações nos casos de roubos praticados nessas circunstâncias. Não pensem os bandidos que usando capacetes ou algo similar irão impedir a Polícia Civil de identificá-los. Não posso, por ora, citar as medidas que estamos adotando para identificá-los, tendo em vista o sigilo necessário para o sucesso das investigações. Logo teremos notícias sobre o encerramento desses trabalhos. Já em relação à população, pequenos hábitos podem ajudar a evitar esses roubos ou pelo menos diminuir sua incidência, como colocação de câmeras de vigilância, o que facilita a identificação dos bandidos, evitar manter nos estabelecimentos grande quantidade de dinheiro ou mesmo objetos de valor à vista de qualquer pessoa, e claro, a participação dos órgãos de segurança pública nesse processo, seja prevenindo o crime com policiamento ostensivo, seja identificando e prendendo os autores através do policiamento repressivo.
A.Chips – Visando cumprir a carga horária de 40 horas semanais prevista em lei, desde abril do ano passado não existe mais delegados de policia nos municípios e comarcas do Estado depois das 18h e finais de semana. A lavratura de flagrante de toda natureza tem sido feita nas delegacias regionais para onde são conduzidos todos os envolvidos no ilícito. Esta situação, que é prejudicial ao Estado e ao cidadão vai perdurar? Como o Sr. vê esta conjuntura?
D.Regional – Sim. A princípio isso deve continuar. Mas antes de falarmos sobre os plantões regionalizados, temos que saber os motivos que levou a sua implantação. Como todo e qualquer trabalhador, o Delegado de Polícia possui direitos e não apenas obrigações. Dentre seus direitos, existe aquele que lhe garante o descanso físico e psicológico após o trabalho diário de 8 horas, somando-se 40 horas de trabalho durante a semana. O que sempre foi de costume, era que Delegados lotados em Comarcas menores, portanto o único Delegado que atuava na cidade, após o expediente normal de trabalho, era acionado durante as madrugadas e finais de semana para atender as ocorrências que aportavam na Delegacia. Esse Delegado permanecia à disposição do Estado os 7 dias da semana e às 24 horas do dia. Ao invés de trabalhar 40 horas semanais conforme determina a lei, ele ficava à disposição por 168 horas durante a semana. Portanto, visando humanizar a atividade desenvolvida pelos Delegados, criaram-se os plantões regionalizados nas sedes de Delegacias Regionais, onde não mais se trabalha além das 40 horas semanais. Com isso, os horários que excedem essa carga normal de trabalho são compensados com folgas durante os expedientes. Esse é o motivo de algumas Delegacias não terem Delegados por um dia durante a semana. E isso também se aplica aos demais Policiais Civis, como Investigadores, Escrivães, Peritos e Médicos Legistas. É evidente que da forma como está a sociedade fica prejudicada. Tenho consciência disso e isso me incomoda muito, na medida em que não disponho de recursos para solucionar esse problema. Qualquer Delegado Regional do Estado que crie uma escala de plantão que ultrapasse às 40 horas semanais se sujeita a responder por improbidade administrativa com possibilidade de perda do cargo não de Regional, mas de Delegado de Polícia que é. Somente com concurso público visando à contratação de novos servidores é que essa situação poderá ser modificada.
Bem, agora que já conhecemos o profissional, vamos conhecer um pouco do cidadão Flavio Tadeu Destro.
* Estado civil – Casado
* Time do peito – São Paulo
* Prato predileto – Rodízio de carnes
* Melhor livro – Obras jurídicas em geral
* Melhor Filme – Os de comédia
* O que vê na TV – Esporte e notícias
* O que faz quando não “está” delegado – Trilha de moto, futebol, passeio com a família
* O que faria se não fosse policial – Se não fosse Delegado de Polícia seria advogado, mesmo porque sou inscrito na OAB
* Um fato marcante – nascimento das minhas filhas
* O que gostaria de ver – Saúde e educação públicas de qualidade.