Morreu na manha deste domingo a jovem Michele de Cássia Santos, vitima de overdose de farinha do capeta. Ela estava na fila de visitantes do Hotel do Juquinha esperando ser revistada para visitar o namorado Daniel Silva Alves o Dany Boy, no sábado, quando passou mal e foi levada para o pronto socorro do Regional. Os médicos constataram intoxicação acidental aguda por drogas. Michele havia inserido três porções de cocaína no corpo, uma na vagina e duas no reto. A droga estava envolta em pedaços de luvas de borrachas e uma delas se rompeu. A farinha rapidamente se espalhou na corrente sanguínea causando a intoxicação.
Esta modalidade de trafico de drogas para o interior dos presídios tem se tornado rotina Brasil afora. No velho hotel da Silvestre Ferraz onde a visita semanal era coletiva – todos os presos eram colocados no pateo para receber os familiares – era comum encontrarmos vômitos e fezes no chão do banheiro, onde os ‘mulas’ – e bestas – expeliam a droga que naturalmente escapavam da revista feita pelos policiais. Óbitos com este tipo de overdose também tem se tornado corriqueiro.
Michele de Cássia no entanto, parecia ignorar o perigo. Aliás, se perigo fazia parte do dicionário da jovem nascida em outubro de 79 e criada no velho Aterrado, no submundo do crime, ela brincava e zombava dele. Michele começou a ‘caminhada’ no crime ainda na adolescência. Pequenos furtos em lojas do centro eram sua especialidade. Por vários anos, o ‘gay’ Paulo Sergio de Freitas, o ‘Ginho’, foi seu parceiro inseparável. A parte mais interessante da aventura ilegal e perigosa era justamente quando enroscavam nas malhas da lei e eram levados para a DP. Mesmo de ‘orelhas quentes’, chegavam dando risadas e debochando das vitimas, pois sabiam que depois de um chá de banco e alguns sermões do delegado e às vezes do promotor da infância e juventude, voltariam para a rua. Pareciam se divertir. Conselhos das autoridades e advertências dos policiais de que quando chegassem aos 18 anos, o caldo engrossaria, foram todos inúteis. Ginho virou homem – homem ? – e há anos se hospeda no Hotel do Juquinha. Michele passou de menina a mulher, aliás uma procriadeira de colo cheio… Aos 32 anos tem 08 filhos imberbes, uma ‘escadinha’… Do primeiro companheiro Edvaldo “Neném” – morto há quatro anos no trafico – são três. Com Dany Boy, que vive de uma cadeia para outra desde o final da década de 90, ela tem outros tantos. Os demais desconhecemos a paternidade.
Um levantamento estatístico prisional publicado ano passado pela revista Veja, mostrou que cerca de 90% da mulheres que hoje curtem o sol quadrado, estão envolvidas com o trafico de drogas. A quase totalidade foi parar atrás das grades levando drogas para seus maridos, companheiros e filhos. O detalhe mais interessante é que quando eles estão presos elas vão visitá-los e arriscam a vida e a liberdade levando drogas e celulares para eles, dentro do próprio corpo. Quando elas estão presas e eles saem, não passam nem na porta do presídio…
Semana passada encontrei casualmente Daniel Silva Alves, o Dany Boy na delegacia regional. Ele fora ali prestar esclarecimentos sobre um patuá de crack que circulava sem dono na ponta de uma “tereza” pelos corredores do hotel do Juquinha. O “Menino que vi crescer”, com o sorriso habitual perguntou: “E aí, Chips… Quando você vai escrever minha historia?” Ele tem mesmo historia para contar…
Dany Boy acaba de acrescentar mais uma capitulo especial a ela. Michele de Cássia, sua fiel escudeira, deu a vida – torta – por ele…