7 anos de cadeia por roubo de cuecas

        Em tempos em que a policia federal – leia-se imprensa, jornalismo investigativo – descobre a cada dia uma nova maracutaia nacional, com milhoes de reais sendo desviados dos cofres do contribuinte para as guaiacas de parentes e amigos dos ‘representantes’ que colocamos em Brasilia – primeiro o Ministerio dos Transportes, depois o da Agricultura e agora o do Turismo… cheios de maçãs podres, o que não é nenhuma novidade, diga-se de passagem – vale lembrar alguns casos de cidadãos simples mortais, que vão parar atras das grades, por furto de galinhas. E são justamente os bipedes galinaceos que começam ilustrando esta simples e curta materia. Em 85, quando cheguei para trabalhar na minha saudosa Silvianopolis, o velho hotel da Julio Correia Beraldo tinha apenas um preso; Carlinhos Lobão. Um negro alto, meio curvado, voz de trovão, com quase dois quilos de beiços. Trabalhava como ‘chapa’, de bermuda e chinelos,  na agropecuaria do Heleno durante o dia e à noite ia dormir na cadeia. Assim foi durante um ano e meio. Seu crime? Numa noite quente de outubro invadiu o quintal de um vizinho no bairro do Lava-pés e furtou uma galinha, para fazer uma ‘frangada’ regada a suco de gerereba com os amigos. Carlinhos Lobão não reclamou da justiça, não esperneou, não mordeu ninguem. Pagou de ‘diboinha’ seu debito social e durante um ano e meio não comeu galinha, nem frango, nem franguinha…. não de noite, pelo menos.

       Outro dia contei nesta mesma coluna a historia daquela simpatica e bondosa senhora que desfilou pelos corrredores do Baronesa protegida pelo ‘habito’, visitando sorrateiramente as gondolas e na saida foi barrada pelo segurança levando na bolsa a tiracolo refis de barbeadores…. sem pagar. Ela desceu no taxi do contribuinte para a DP e não foi autuada em flagrante e portanto não subiu para o hotel do Juquinha, porque a delegada de plantão foi muito sensata, mas sentou-se ao piano e assinou um 155. Ah, ela é freira….

       Na segunda feira do ultimo carnaval, meu conterraneo T. pulou o muro do quintal da casa da senhora D., lá em Congonhal e furtou uma calcinha que estava secando no varal. Ele não explicou o que pretendia fazer com a ‘langerri’ da vizinha, mesmo assim também contou com o bom senso do delegado de plantão para não ter que se travestir de boneca no hotel do Juquainha. Só não escapou do piano e esta sendo processado por furto.

        Mas o motivo que me faz tomar seu tempo meu estimado leitor, são as cuecas.  Não as minhas Lupos e Bad Boys e nem as suas. Mas as velhas e surradas cuecas de elanca de M.T.V, que também estavam penduradas no varal. Elas foram alvo da cobiça do cidadão C.F.M. na cidade de Alfenas. Na calada da noite o moço de 27 anos galgou o muro da residencia, desceu sorrateiro no quintal e passou a mao leve em tres cuecas e um par de meias e tentou dobrar a serra do cajuru. Foi delatado pelo “Totó” que estava de guarda e caiu nas malhas da lei. Apesar da indignação, o vizinho declarou ao juiz que as peças intimas eram bastante usadas e portanto não tinham valor material e nem mesmo sentimental, por isso o douto homem da capa preta, baseado no principio da insiginificancia da ‘res furtiva’, absolveu o larapio de cuecas. O sempre zeloso Representante do Ministerio Publico discordou e sob a alegação de que o meliante sem roupa de baixo tinha maus antecedentes e tendencias a delinquir, recorreu da descisão. O processo subiu e C.F.M. foi então condenado pelo TJMG a 7 anos de prisão pelo furto das cuecas e meias velhas. A pendenga continua acalorada e parece que não vai esfriar tão cedo, pois o STJ acatou a primeira descisão da Comarca de Alfenas e o absolveu. Novamente o dignissimo MP recorreu e o caso das cuecas furadas – que apesar de lavadas continuam fedendo para C.F.M. – pode parar no Supremo Tribunal Federal. Enquanto isso, nos bastidores – ou seria nos esgotos? – da Esplanada dos Ministérios….

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