Quando embiquei o carro no estacionamento da Drogasil, ao lado do semáforo, um sujeito pulou na frente e começou gesticular em câmera lenta, orientando-me a estacionar. Como eu ia esperar no carro, para evitar trancar a passagem do que estava à minha frente – detesto quando fazem isso comigo – pedi a Tatiana que descesse e pude dedicar toda atenção ao ‘guarda voluntario’ de transito… ou vigia do estacionamento.
Ficou meio encabulado. Quase ruborizou como uma colegial ao me ver sorrindo para ele enquanto me ‘orientava’ a estacionar… Tinha 42 anos, estatura e porte físico de 12, agia como se tivesse 14 e com a barba rala por fazer aparentava uns 50…
Depois do afável ‘bom dia’ perguntei seu nome.
– E.F.V.B. da Silva.
Pensei em emendar o velho ditado caipira: “pessoa com mais de três sobrenomes é ladrão de cavalo”, mas me calei.
Sem esperar a próxima pergunta ele foi desfiando seu currículo;
-… Eu trabalho aqui no semáforo. Limpo os pneus os carros. Limpo o vidro. Moro na mata… – emendou já à vontade apontado o braço para o sul da cidade. Devia trabalhar mesmo, pois naquele momento ele descansou um trapo que trazia na mão direita, no bolso da calça, enquanto a esquerda permanecia fechada.
– Ah, você mora naquela restinga na beira do Rio Mandu, perto da ponte? Perguntei.
– Tá loco Chico!!! Ali só mora nóia!!! Eu não mexo com droga não, doutor! Moro lá embaixo, debaixo das arvores, durmo na rede…
Imaginei que fosse nas proximidades da lagoa da Banana… Conversamos uns dois ou três minutos sobre a agitação do fim de ano até que ele começou passar lentamente as moedas da mão esquerda para a direita, meio acanhado de mostrar as moedinhas de cobre, de 10 e 25 centavos. Como estávamos ficando sem assunto, ele se ofereceu para limpar meus pneus.
– Obrigado, Eloisio! Não é necessário. Vou pegar estrada de terra daqui a pouco – Respondi. Antes que ele fizesse cara triste, emendei, abrindo a carteira;
– Mas você não vai ficar sem chumbo… Tome – Dei-lhe a única nota de 2 reais que tinha na carteira. Agora ele não parecia mais ter 14 anos… Parecia uma criança de 4, ganhando uma bola colorida!
– Deus te abençoe, doutor – disse ele saltitando, batendo os calcanhares um no outro, lembrando Charlie Chaplin… Antes de pular na frente da fila de carros que se formara no semáforo da Vicente Simões, virou-se nos calcanhares e falou serio;
– Ah, doutor, se alguém tentar te vender óculos por telefone, abra o olho… Pode ser armação!!!
-!!!!!!!!!
Hahahaha! Conheço esse comédia.
Ele fica sempre no estacionamento ao lado do Edifício Monte Carlo, em frente a EletroZema.
Sempre converso alguma coisa com ele e, apesar do aspecto que apresenta, fala sobre os mais diversos assuntos, música, política, história.
Figurão…
Legal o relato!
Abraço Chips.
Abraços, Morador…