Falando em cena macabra, outro dia, em 2006, aconteceu um fato interessante na capital da eletrônica. Não foi tão macabro quanto o esquartejamento em seis partes de Três Corações, mas daria enredo para um bom filme de terror. Dona T.M.M. 56 anos vivia com as filhas já titias – porque será que ficaram para titia ? – e a mãezinha já anciã numa viela do bairro Maristela. Vivia literalmente com as filhas e a mãe, pois não se relacionavam com ninguém na vizinhança, devido ao seu ‘genio dificil’, ou como a própria T.M. diria se fosse perguntada; “…porque eles são impuros”. Apesar de não ter nenhum contato com a estranha família, a não ser visual, um belo dia, vizinhos perceberam que a velhinha de 82 anos não aparecia mais nem na janela da casinha simples do beco. Passaram a observar melhor e começaram sentir um estranho cheiro no ar. Uma mistura de perfume com ervas queimadas e …. carniça. Pior, carniça humana. Teria a calada velhinha morrido? Teria ela sido esquartejada e enterrada no quintal? Os problemas da estranha T.M. eram dela, mas como vivemos em sociedade, alguém resolveu chamar a policia para sentir o cheiro também. Interpelada na porta da casa a domestica disse que sua mãe estava dormindo e relutou em deixar-nos entrar. Mas agora com a porta aberta, tínhamos certeza; algo não cheirava bem ali… Entramos na marra e o que vimos num quartinho dos fundos da singela e limpa casa causou arrepios e náuseas. Sobre a pequena cama de solteiro cuidadosamente forrada com lençol estampado, ornada com desenhos coloridos de quimera, cercada por vasos de flores artificiais, estava a anciã, plácida, calada e serena… morta há quinze dias.
Indagada sobre a cena, T.M. repetiu sem titubear que a mãe estava dormindo e poderia acordar a qualquer momento. E ainda acrescentou com convicção que a mãe não deveria ser imolada, pois poderia ser ‘contaminada’ pelos impuros… A retirada da velhinha putrefata da casa da filha, espalhando seu nefasto e inevitável odor pela vizinhança, exigiu escolta policial. Dois dias depois do enterro voltei ao local para intimar dona T.M., para prestar esclarecimentos em I.P. Ela ainda estava brava com o ‘seqüestro’ da mãe. Fincou os pés e disse que não iria atender a intimação. Que não estava sujeita às leis dos homens. A única lei que acataria era a do seu deus, o “Deus da Guerra” e só iria à delegacia se o seu Deus assim o permitisse. Mas arriscou-se à clássica pergunta; “E seu eu não for à delegacia, o que vai acontecer?” Como todo bom policial que não complica mas esclarece, respondi na virgula, com firmeza mas sem exasperação; “ Não se preocupe, se a senhora não chegar às duas horas, às duas e dez estarei aqui na porta para lava-la no táxi do contribuinte” – Quase perguntei se precisava levar pulseiras de prata.
No dia seguinte quando abri a porta da delegacia às duas da tarde, dona T.M. estava lá com sua grande e surrada bolsa estampada a tiracolo, agarrada ao braço de uma filha taciturna. Fingiu que não me viu, mas logo que virei as costas, entrou atrás de mim e foi direto ao cartório do escrivão Erasmo prestar depoimento. Ela não cometera nenhum crime, nem mesmo vilipendio de cadáver. Sua mãezinha havia morrido de velha. Ela só tinha que ser avisada e mudar-se de cemitério. O homem da capa preta na certa deve ter pedido o arquivamento do processo e nunca mais ouvimos falar na mulher que queria ressuscitar a mãe depois de 15 dias… com incensos e preces ao ‘Senhor da Guerra’!!!