Os balconistas da farmácia – única – do bairro Recanto das Margaridas, em Santa Rita do Sapucaí, se preparavam para fechar o caixa no final da tarde de ontem quando o ultimo cliente chegou. Ao invés de receita medica e dim-dim, ele trazia um imenso facão na mão. Brandindo a lamina marcada por seiva de arvores e bananeiras, D.Mota Mendes, 16 anos foi logo ameaçando fazer cabeças rolarem se não levasse o dim-dim. Não houve resistência e ele mesmo enfiou sua negra mão esquerda no caixa e pegou o que havia: R$150 reais.
Mais conhecido no bairro do que nota de dez, o delinqüente juvenil caiu nas malhas da lei meia hora depois e desceu para a Delegacia Regional de Pouso Alegre para assinar o 157. Apesar de ser inimputável, como o crime foi cometido mediante ameaça de ofensa à integridade física das vitimas, o pequeno meliante foi parar atrás das grades. Na manha desta terça ele voltou para o bairro Recanto das Margaridas, mas não passou em casa… foi direto para o ‘hotel’.
Durante os próximos 45 ou 90 dias, quando dona Márcia for ao Hotel Recanto das Margaridas visitar o filho delinqüente, matará três coelhos com um cajadada só. É que lá já se hospedam seus dois filhos, Wellington “Filipinho”, de 18 e Leandro “Hollyfield, de 26, todos pelo mesmo motivo.
Filipinho começou mais cedo, aos 12 anos. Furtos em lojas e residências era sua marca registrada desde que era deste tamaninho!!! Cresceu no crime, ouvindo sermões de policiais, assistentes sociais e autoridades e fazendo estagio com os marmanjos no presídio. Três dias depois de completar 18 anos fez sua primeira ‘fita’ de ‘homem’, um 157 nervoso e caiu.
Leandro Hollyfield começou já adulto, mas começou em grande estilo. Insatisfeito com o parco salário de serviçal no hospital Antonio Moreira da Costa, onde era muito bem quisto pelos colegas, o primogênito da viúva Márcia, cujo apelido vem de sua semelhança com o boxeador americano, aceitou a proposta de um coroa preterido e tentou matar um rival dele em troca de 200 reais. Antes de fazer os disparos na nuca do rapaz e nas costas da jovem namoradeira, Hollyfield tomou seu relógio… este foi seu vacilo. Eu, o jovem Kleber e o compadre Benicio o prendemos quinze horas depois da frustrada tentativa de execução. Não tínhamos provas do crime, apenas suspeitas. No trajeto do bairro Recanto das Margaridas para a DP da Quintino Bocaiúva, através do espelho retrovisor da velha Parati, vi Hollyfield tentar jogar o relógio prateado do Ernane pela janela da viatura… Era a prova que precisávamos. Ele foi condenado a sete anos e meio por tentativa de latrocínio e tão logo retomou a liberdade, fez outro 157.
Entre Filipinho e Hollyfield tem o Renato. Ele começou distribuindo drogas na Vila Operaria aos 16 anos. Progrediu no crime. Já mandou dois desafetos para a “Pousada Eterna”. O ultimo foi um velho traficante, ex-marido de uma policial, assassinado a tiros no Recanto, em 2010. Quando soube que os homens da lei haviam descoberto o homicídio, dobrou a serra do cajuru. A qualquer momento volta para matar a saudade do bairro Recanto das Margaridas e vai fazer companhia aos irmãos.
A saga dos M. Mendes não para por aí. Um amigo oculto da lei me contou recentemente que aquela garotinha que eu vi crescer agarrada à barra da saia da mãe, que se desmanchava em sorrisos e me chamava de ‘gatão’, agora com 20 anos, está dominando o trafico de drogas no bairro. Até dona Márcia, de tanto visitar os filhos na cadeia, desacorçoou da vida honesta… está seguindo os passos profissionais dos filhos. Logo, logo a família não terá mais que se preocupar com moradia, alimentação… vai estar morando toda de graça, no hotel Recanto das Margaridas.
Mas nem tudo na sofrida família M. Mendes está perdido. O caçula que eu conheci ainda no ventre da tristonha mãe na porta da cadeia, está limpo. È um anjo, não deve nada à justiça. Ele está com cinco anos de idade…