Semana passada o garotinho Fabian M.M.Silva, 12 anos saiu de casa para estudar na casa de amigos e de lá resolveram ir ao cinema no P.A.Shoping. No corredor de acesso ao cinema foram abordados por um simpático casal de meia idade, bem trajado com uma maleta e um notebook nas mãos. Eram pesquisadores de um instituto qualquer, querendo saber as preferências e tendências da garotada entre 13 e 15 anos.
– Ah, você só tem 12? Mas parece tão grande e esperto que pensamos que tivesse 14 ou quinze – disse a simpática dondoca, para massagear o ego do garoto e ganhar sua confiança. E começaram com a enxurrada de perguntas fúteis & inúteis acerca de televisão, cinema, filmes, os novos lançamentos, artistas preferidos, revistas de celebridades e ‘cozitas mas’ sobre a sétima arte. E para finalizar, já quase amigos íntimos, quiseram saber da vida pessoal, tipo endereço, nome dos pais, avós, telefones de contatos, amigos da família e outras informações que permitiriam a eles – a dupla – saber até a cor da cueca que o pai do garoto estava usando. Enquanto a concentrada pesquisadora perguntava e registrava as informações no computador no colo, seu comparsa, digo, parceiro, registrava as informações visuais, quais sejam; tipo de roupa, estatura, cor do cabelo e penteado, calçado e etc que Fabian usava. Ao final da entrevista agradeceram e se despediram com sorrisos de fotografia e fizeram um lembrete;
– Não se esqueçam de desligar o celular durante a exibição do filme… para não atrapalhar os outros. Dez minutos depois ligaram para o celular do garoto para terem certeza de que ele havia desligado o aparelho. Estava mudo. Era hora de colocar a segunda parte do plano em pratica.
Monica estava com um olho na novela e outro na panela quando o telefone tocou. Do outro lado da linha o interlocutor tinha pressa e foi logo ao assunto chamando-a pelo nome;
– Monica, preste atenção que o meu tempo é valioso. Seu filho Fabian, o loirinho de cabelo espetado com gel, que curte Shaquira, está usando camiseta azul com letras ‘Chicago Bulls’, bermuda laranja até os joelhos, tenis azuis da Rebook, celular xxxx.yazz, saiu para fazer um passeio comigo e contou que seu marido está viajando com o Astra preto e que vocês tem um bom dinheiro na poupança…
Monica não sabia se interrompia o homem, se ordenava as idéias ou se esperava ele parar de falar, pois ele parecia saber mais da sua família do que ela própria. Pensou por três segundos, desligou o telefone e ligou para o celular de Fabian. Tocou até chegar na mensagem eletrônica e ele não atendeu. O pânico bateu à porta. Ela quase triturou o aparelho com a mão esquerda enquanto esperava que ele tocasse de novo. Não tardou…
– Estamos perdendo tempo – disse a mesma voz de antes do outro lado.
– Vamos ao que interessa. Fabiam está com a gente e você tem 20 minutos para depositar 10 mil reais na conta xyz em nome de J.F.K. Um colega está conectado na internet. Tão logo ele confirme o deposito na conta citada seu filho voltará são e salvo para casa.
Já com alguns fios de cabelo na mão, Monica conseguiu balbuciar:
– Eu quero falar com meu filho.
– Sinto muito, não vai dar . Ele estava falando muito palavrão, por isso tivemos que colocar um esparadrapo na sua boca e colocá-lo no porta malas – disse o seqüestrador, e abusou do sarcasmo;
– Precisa educar melhor seu filho, hein!!…
Seguiu-se a chorumela própria da situação e 37 minutos depois 8,700 reais – era o que ela tinha disponível no banco – passaram da conta de Monica para a conta do “pesquisador” do Shopinng. O pânico diminuiu um pouco mas a mãe aflita continuou tensa ao lado do telefone esperando um novo contato, como se o filho fosse sair de dentro do aparelho. Ele quase caiu no chão quando tocou, tamanha a pressa com que Monica o levou ao ouvido.
– Caaallllma dona Monica – disse o pesquisador com deboche. Nós estamos um pouco longe da sua casa, mas pode ficar tranqüila, o homem de ferro salvou seu filho. Dentro de 20 minutos ele chegará em casa são e salvo e ‘nem se lembrará de nada’. Vá recebê-lo no portão.
Ela foi… esperá-lo na esquina, com um olho na rua, o outro no relógio e o coração batendo mais veloz que Rubinho Barrichello. Quando o viu se aproximar caminhando placidamente como se tivesse saído do paraíso, correu ao seu encontro, o abraçou calada e o encheu de beijos. Ele, assustado, perguntou;
– Tudo bem com você, mãe?
Ainda agarrada ao filho que parecia não ver há séculos fez a clássica pergunta:
-Onde você estava meu filho?
– Eu estava no cinema, mãe, esqueceu? O Homem de Ferro é ‘manero’, mãe. Tinha um pessoal legal fazendo uma pesquisa sobre filmes na porta do cinema. Eu fui entrevistado….”.
O filme que o garotinho Fabian assistiu é uma produção independente dos estúdios ‘Vigarista & Finória’, intitulado; “O falso pesquisador”. Sua mãe Mônica, assistiu o filme dos mesmos produtores; “90 Minutos de Pânico I”. Filminho caro, hein… 8.700 reais.
Você que tem filho criança, adolescente ou estudante, oriente-o ao sair de casa, para não sair por aí respondendo a ‘pesquisas meia-boca’ na rua ou porta de shopinngs e fazer melhor uso do celular. Você não vai querer assistir “A hora do pânico II”, vai?…. A propósito, o jantar da família naquela noite foi arroz com feijão assado…ou seria, queimado!?!?