Semana passada, na festa de posse dos novos chefes da policia civil de Pouso Alegre na Camara Municipal, encontrei meu velho amigo Zeca Juru, que há anos não via. Foi um encontro emocionante. Numa rápida conversa antes das solenidades, o bom matuto mostrou que está afiadinho…
– Ora, ora… se não é o meu amigo Zeca Juru!!! Como é que vai? Por onde tem andado, meu velho?
– Ara, mai é ocê memo, Airto Chips !!! Oce qui sumiu, rapaiz… a muié num dexa mais cortá o cabelo?
– Pois é Zeca. Se eu cortar, perco a mulher…
– Mai ta muderno, heim!!! De brinquinho na oreia!!!
– Liga, não Zeca. Depois dos 50, aposentado e com três filhos, agora posso sair do armário, né… – Brinquei.
– Ói, lá rapaiz!! Vamos larga de lenga-lenga e sentá ali naquele canto sussegado eu tô com sodade de prosiá coce…
– Vamos Zeca Juru. Eu também estou com saudades das nossas prosas. Faz anos que não te vejo. Outro dia estive lá na sua casa no pé da serra do Cajuru mas não achei ninguémem casa. OTotonho, seu vizinho me disse que você estava viajando…
– É seu Chips, eu fui visitá o fio que ta trabaiano em Brasía…
– Uai, Zeca, você não é do tipo que aceita favores de políticos. Como é que foi empregar seu filho em Brasília?
– I num aceitei memo… num é imprego pulitico, não. Ocê se lembra do meu fio do meio, o Chiquinho, aquele mirradinho?
– Aquele que não gostava de trabalhar na roça?
– Puisintão. O danadinho cismô de querê i pra cidade istudá e fazê facurdade di direito. Si formô, garrô istudá maium tanto inté arta hora da madrugada e acabô passano no concurso do tribunar di justiça. Ta ganhano uma nota preta… cus mérito dele próprio.
– Que coisa boa Zeca!!
– …Agora tá trabaiano na capital federar, pertinho da Dirma…
– Ta importante o menino, heim Zeca Juru?
– … Capaiz dele ganhá pur meis o qui eu num ganho pur ano prantano mio, fejão, fazendo quejo e criano galinha i uns porquinho caruncho lá no Cajuru… Mai eu num to gostano não, seu Chips. Brasía tem rato dimais… To cum medo do fio se dexá contaminá…
– Ora Zeca, fique tranqüilo. Educação e caráter se traz do berço. Tenho certeza que ele aprendeu este valores com você! Mas me conte, você gostou de Brasília?
– Ahn… maomeno, seu Chips. Lá tudo é grande, tudo é longe i tudo é farso i sem vida. Brasía divia di sê conhicida como a capitar da mintira… Ô povinho mintiroso, sô. A disonestidade foi passiá lá i resorveu ficá… Da ponta da ispranada dos ministério inté o palácio da arvorada, é custoso achá um cabocro onesto… Confesso qui eu fiquei cum vergonha di ficá lá.
– Não são tantos assim, Zeca, mas de fato tem muito político em Brasília envergonhando o país. È preciso dar um basta na corrupção…
– É seu Chips, vamo vê si a ficha limpa vai limpá um poco a sujerada da capitar… Óia lá, já vai começá a cerimonia. O Carlo Eduardo vai passá o comando da policia civir da região para o Joãozinho…
– Joãozinho!!! De onde que você é tão intimo assim do Dr. João Eusébio, Zeca Juru?
– Ara… o delegado João é amigo véio desdi quando era detetive lá im Bueno Brandão… Um cumpadre meu pricisô chamá um genro forgado na chincha i ele foi muito atencioso i correto. Desdi aquela época eu tenho acompanhado os passos deli. Deus qui ilumine o Joãozinho nessa nova impreitada… eli merece.
– Com certeza. Zeca Juru, eu vou ter que tirar umas fotografias… Qualquer dia destes eu apareço lá no Cajuru para tomar o cafezinho da Filomena e continuar esta conversa. Fico feliz em revê-lo…
– Eu fiquei mais inda, seu Chips. Aparece sim que a Filomena também ta com sodade…
*Zeca Juru é um caboclo bom de prosa e de bom coração. Ele mora com a família, suas vaquinhas e galinhas, numa casinha branca perto de um riacho, atrás da serra do Cajuru. A simplicidade fez xele um sábio. Zeca Juru sabe quase tudo que acontece na cidade grande. Semana que vem a gente continua nossa conversa, aqui nesta tela. Você vai gostar.