“Boca Rica” bate na amasia e apanha de Maria da Penha

A ‘barca’ dos homens da lei cortava de sul a norte a famosa avenida vereador Antonio da Costa Rios, espinha dorsal do velho Aterrado, quando a jovem A.C.F.B. pulou à sua frente e, atabalhoada e  banhada em prantos, se pôs a contar:

-“Ele tomou meu dinheiro e me bateu”. “Nós ganhamos honestamente o dinheiro pedindo esmola e ele me bateu, tomou o dinheiro e foi comprar pedra…”

A.C. estava falando do amasio João Batista Teodoro da Silva, 30 anos, o “Boca Rica”, dono de uma das maiores capivaras da delegacia de policia por furtos e roubos pés-de-couve e outros delitos, com quem vive entre tapas & beijos ha um ano.

Joãozinho Boca Rica herdou o apelido do pai, um dos mais famosos 171 de Pouso Alegre nas décadas de 70 e 80. Apaixonado por VW Passat ele andava sempre bem vestido e com a guaiaca recheada … de cheques sem fundo, comprando e vendendo Brasilias velhas enquanto João e outros irmãos mais velhos cresciam descalços, sem camisa, barrigudinhos e com a cara remelenta na travessa Cordeiro Olimpio. Para estar ‘de bem com a policia’, o escolado Boca Rica costumava passar valiosas informações do submundo do crime aos tiras. A caguetagem lhe custou caro. Foi assassinado misteriosamente há mais de 20 anos numa quebrada deixando João e os outros ‘branquelinhos’ imberbes ao ‘Deus-dará’.

Joãozinho Boca Rica que não chegou – e não chega mais – nem aos pés do pai em esperteza, quando ainda detinha alguma ‘dignidade no mundo do crime’, fez-me duas visitas anos atras. Na primeira encontrou a garagem do prédio aberta… montou na minha bicicleta azul e desceu a Otavio Meyer levando também uma caixa de som para trocar por pedra no Aterrado. Uma semana depois voltou. Como a garagem estava fechada, ele galgou uma grade de cinco metros e quando estava escolhendo qual apartamento visitar, foi surpreendido. Quando cheguei ele ja estava no alto da grade tentando dobrar a serra do cajuru. Para não ter que descer nos meus braços, Boquinha Rica voltou para o interior do prédio, caminhou como um gato de três cores sobre o muro, onde eu só pude atravessar rastejando, pulou para o prédio vizinho, não conseguindo se agarrar na varanda caiu num matagal de mais de 5  metros de altura e saiu correndo no pasto do Mario Xexeu, com uma saraivada de azeitonas quentes lambendo seus calcanhares. Alongou-se no matagal atrás das casinhas do João Borges e meia hora depois saiu na Amadeu de Queiróz… para cair solenemente nos meus braços.  Não assinou nenhum artigo do código penal naquela noite, pois ao pé da letra morta da lei, ele não infringiu nenhum artigo. Entrar num prédio, ainda que mediante escalada na quebrada da noite, não é crime.

Se as dezenas de delitos não conseguiram levar Joãozinho Teodoro para o hotel do Juquinha, algumas bolachas na amasia A.C., conseguiram. Boca Rica, com toda sua pobreza, desceu com pulseiras de prata para a DP, sentou-se ao piano, assinou um 129 “temperado” por Maria da Penha e foi se hospedar no famoso hotel do contribuinte. O delegado de plantão ainda lhe deu uma chance de aguardar em liberdade, mas aplicou uma fiança de R$1 mil reais… Como ele havia gasto todo o dinheiro da esmola com a pedra bege fedorenta, foi ver o sol nascer quadrado.

Que ironia!!! Que decadência!!! Joãozinho Boca Rica espancando a amasia para tomar-lhe a arrecadação da esmola, para comprar crack… Que falta que você faz Tarcisio Boca Rica…!!!!

0 thoughts on ““Boca Rica” bate na amasia e apanha de Maria da Penha

  1. Já dei cana nesse \”Boca Rica\”, lá npo Aterrado, ahahahahaha…eu, o saudoso Paixão…e o Camarão…ahahahaha…que turma heim Chips?

  2. Pois é, Rodão… Lembra do velho Boca Rica? Cagão que só ele. Não podia tomar um apertozinho que ja se abria igual para-quedas. Contava mais do que a gente queria saber. Era um tremendo cagueta. Bom pra nós mas ele acabou pagando por isso com a vida.
    A proposito Rodney, me manda coisas interessantes daí de S. Sebastião para eu colocar aqui no Blog. Na sua vizinha Passos a coisa anda preta, heim? Ja mataram 34 este ano.
    Abração pra voce, pra Jack e toda familia…
    Saudades de voces…

  3. Olha cara…moro em Passos e os homicídios são fruto, quase que exclusivamente, do tráfico de drogas. Estou de férias-prêmio, me preparando para a aposentadoria, mas hoje estive conversando com um sargento da PM de Passos muito engajado e ele me disse que muitos dos crimes são praticados por menores, que seguem soltos pelas ruas, mercê dos traficantes. O que fazer? Todos nós, policiais sabemos…Por que não fazem? Acho que todos nós, policiais, também sabemos…
    Bom em S.S.do Paraíso, modéstia à parte, pois sou o Delegado Regional atual, somos privilegiados, porque temos uma equipe coesa e competente.
    De novidade, não reconhecida pela PC/MG – como sempre, mas pela comunidade, está a criação do GIR (Grupo de Investigação Rural), que criei com a finalidade de investigar e prevenir furtos e roubos na zona rural, principalmente na época da colheita do café. Tivemos tanto sucesso que entre esta e a próxima semana, não sei o dia ao certo, o JORNAL NACIONAL levará ao ar uma reportagem sobre o GIR e como conseguimos praticamente \”zerar\” os crimes na extensa e rica zona rural de São Sebastião do Paraíso, isso, sem esquecer do apoio da comunidade rural, que nos doou uma caminhonete FORD RANGER para o prosseguimento do serviço, pois iniciamos com um Fiat Uno caindo aos pedaços…Isso aí irmão, quando queremos, fazemos acontecer. Forte abraço e você, aos seus e aos leitores deste importante canal de comunicação. Parabéns!!!!

    • É isso mesmo Rodney… pena que falta incentivo e reconhecimento para as boas iniciativas, pois nós sabemos como fazer. Mas precisamos de uma \’molinha\’ para nos impulsionar…
      Tres meses que trabalhei em Monte Sião em 2004, com a simples e discreta presença nas ruas e um pacote de mandados de prisão na prancheta, ainda que a maioria relativa a pensão alimenticia, baixou a quase zero o indice de roubos a malharias. O mesmo ocorreu em Santa Rita em 2006. Dos 09 homicidios da cidade naquele ano apuramos 08, além do combate ferrenho aos furtos e roubos e capturas de foragidos da cadeia que antres brincavam de fugir. No ano seguinte o indice de criminalidade foi lá para baixo. Em 2009 – chato dizer isso publicamente, eu ja estava aposentado – Santa Rita foi agraciada com o titulo de cidade mais violenta do Estado.

      A realidade de hoje é outra em relação à epoca em que começamos trabalhar na policia. A droga \’do dia\’ era quase só a maconha, que não é tão avassaladora e nem imprescindivel na vida do viciado, além do que, custava barato. Um baseado de dois reais dava para aplacar a fissura numa rodinha de tres ou quatro nóias numa quebrada qualquer. O crack custa cinco reais, satisfaz apenas um e não aplaca toda a fissura…

      Não dá para acabar com as drogas e consequentemente com os crimes, mas iniciativas como o GIR podem prevenir baixar muito os indices. Parabens amigão, pela iniciativa, pelo seu trabalho e de toda sua equipe.
      Abraços a todos…

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