Você já pensou em ser artista de teatro no cotidiano? Já pensou em se apresentar numa delegacia de policia dizendo que é delegado e assumir suas funções? Ou então no fórum da Comarca dizendo que é o novo promotor de justiça e ter acessos aos processos, acompanhar as audiências e até mesmo diligencias policiais? E Padre? Já pensou em ser padre de mentirinha, celebrar missas, ouvir confissões, ganhar presentes das beatas, dar a benção para fiéis, ser reverenciado na rua e morar de graça na casa Paroquial? Este parece ser o melhor personagem não é? Pois foi o que Fabrício Gomes de Morais, 35 anos escolheu. Ele se apresentou na igreja de São Pio, no bairro Quitandinha, na cidade de Araraquara como Padre Fabrício e passou a celebrar missas e outras cerimonias. Tratado pelos fiéis com o devido respeito e credito que merece um emissário de Deus, ‘padre’ Fabrício foi até uma livraria católica e comprou cerca de R$ 2 mil reais em livros e artigos religiosos…. e mandou ‘pendurar’ na conta da paróquia, naturalmente. O falso padre estava ‘vivendo no céu’, Só tinha um problema; como ele nunca foi um assíduo freqüentador de igreja e não fez nenhum curso preparatório, ele não estava sabendo celebrar direito as missas. Na verdade ele ‘não sabia da missa o terço’ e passou a misturar os ritos e santos além de confundir Jesus com Genesio. Alguns fiéis, percebendo que o novo padre não era muito católico, resolveram pedir ao padre da matriz de Araraquara para ajudá-lo…. e o santo mostrou as solas dos pés sujos. Era um tremendo picareta infiel tentando levar uma boa vida dentro da batina. Se Deus o perdoou pela farsa não sabemos, mas o delegado da cidade, não. Ele recebeu pulseiras de prata como qualquer mortal pecador e foi levado para o presídio de Jaboticabal.
Ao puxar sua capivara, soube-se que havia um mandado de prisão em seu desfavor, por furto na capital paulista. Ao interpretar mal o papel de padre, Fabrício mostrou que não é bom artista, mas ele bem que tenta. Já foi ‘advogado’ e ‘delegado federal’ em outras cidades do estado de São Paulo.
O falso padre conseguiu enganar os fiéis por apenas dez dias no bairro Quitandinha. Em Pouso Alegre, no final dos anos 80, um cidadão serio e bem trajado se apresentou no Forum da Comarca dizendo que era Promotor de Justiça. Assumiu o cargo e durante quase três meses acompanhou audiências e falou em processos. Como ele gostava mesmo era do trabalho policial, acompanhou dezenas de blitz e rondas policiais pela cidade. Era tão Promotor de Justiça quanto o padre Fabricio. Só desistiu da “carreira’ quando percebeu que a ‘casa iria cair’.
Cidadão travestido de autoridade para auferir algum tipo de vantagem não é nenhuma novidade neste Brasil varonil. Em Brasília temos centenas deles há muito tempo, ocupando o honroso cargo de “Representante do Povo”… enchendo os próprios bolsos. E pior… fazendo as leis que os protegem das pulseiras de prata…
Essa conclusão do seu texto foi ótima
Obrigado Mariza.
Esta maneira descontraida de ver e narrar as situaçoes, facilita o entendimento e torna o fato, mesmo o tenebroso, mais agradável de ler.