Uma criança por um par de chinelos havaianas!

Você acha que conhece o Brasil? Acha que o perfil do brasileiro cá do rico Sudeste ou do Sul, é o mesmo do brasileiro do Nordeste? Então leia essa historinha simplesinha passada – aliás, que está se passando – no Piauí!


Jose de Ribamar Pereira Lima tem 52 anos. Ele cumpre pena de 18 anos, por estupro de menor de idade, na penitenciaria agrícola Major Cesar Oliveira, na cidade Altos, há 38 KM de Teresina, no Piauí. Foi lá que ele conheceu o lavrador Gilmar Francisco Gomes, 49, que também cumpriu pena de 8 anos por dois estupros de menores e atualmente está no regime aberto.
Jose Ribamar está no regime semiaberto e trabalha na horta da colônia agrícola. A lavoura é administrada pelos presos, que comercializam os produtos e, em época de colheita, contratam trabalhadores e pagam 20 reais por dia. É ele que decide quem deve contratar para trabalhar na colheita da colônia agrícola.
Gilmar e a esposa Sebastiana são alguns desses trabalhadores avulsos, que ganham 20 reais por dia. O sonho do Gilmar é ter um prego fixo na lavoura. Toda vez que Gilmar pede emprego fixo na horta da colônia, Jose Ribamar desconversa e diz que à noite, sente muita solidão na cela da cadeia.
No semana passada Gilmar e a mulher Sebastiana da Silva, a convite de Ribamar, foram trabalhar na irrigação da lavoura. E levaram com eles os filhos menores, um de 13 e outro e 9 anos. Em troca cada um ganhou um prato de comida.

À tarde, o menino mais velho perguntou à mãe se poderia dormir no presidio.
– Pra que menino – questionou Sebastiana.
Gilmar interveio e disse com veemência, que o garoto ficaria lá, já que Ribamar seu compadre se queixava de solidão. E ele ficou.
As duas da madrugada, durante uma inspeção de rotina, os agentes penitenciários encontraram o garoto de 13 anos na cela de Jose Ribamar!

O garotinho contou aos agentes, que à noite ficou vendo televisão, enquanto Ribamar ficou deitado na cama, de calção. Quando sentiu sono, também de calção, o menino deitou na cama ao lado de Ribamar.
Em depoimento na policia o adolescente contou que Ribamar lhe deu um par de sandálias havaianas de presente e havia prometido comprar um videogame e um celular no Dia das Crianças para ele e para o irmão mais novo.
O Ministério Publico do Piauí abriu um procedimento para investigar denúncias de que crianças e adolescentes entram e saem da Colônia Agrícola e muitas vezes dormem lá.
Repórteres de VEJA que estiveram no local, constataram que os portões do local ficam abertos o tempo todo, inclusive à noite, e que as alas das celas é separada da estrada que dá acesso ao prédio principal apenas por cercas de arame farpado, baixas.
O Conselho Tutelar do Piauí suspeita que Gilmar esteja oferecendo os filhos para passar a noite com presos na colônia agrícola, e pediu à justiça que tirasse os meninos da guarda da família.
“É muito triste, mas essas famílias lidam com a violência sexual sob outra ótica. Esse senhor, por exemplo, já estuprou duas mulheres. Todos seus filhos – incluindo outros quatro maiores de idade que moram em outra cidade – sabem disso e tratam o assunto como se fosse a coisa mais natural do mundo”, conta uma conselheira tutelar.
Na quarta-feira,04, por determinação da Vara da Infância e Juventude da Justiça do Piauí, Gilmar Gomes e Sebastiana perderam a guarda dos quatro filhos menores. Gilmar, que cumpria pena de estupro no regime aberto, teve a prisão preventiva decretada.
Veja abaixo o que disseram os pais, Gilmar e Sebastiana, ao repórter Ullisses Campbell, da revista VEJA.

“ Repórter: Porque os senhores deixaram o filho no presidio junto com um adulto que cumpre pena por estupro?
Gilmar: Ele pediu pra ficar lá.
Sebastiana: Ele não pediu. Você que insistiu (falando para o marido). Meu filho nem queria ficar lá. Nem eu queria deixar ele ficar. Quando eu estava chegando em casa, me deu um aperto no coração, mas não tinha como pegar ele de volta.

R.: Porquê?
Sebastiana: Fiquei com medo que o Ribamar fizesse algo com meu filho, que é muito magrinho e fraco. Mas não deu para eu voltar e comecei a chorar.

R.: A senhora acha que o Ribamar fez algo com o seu filho?
Sebastiana: O meu filho diz que não. Mas achei esquisito os dois estarem dormindo na mesma cama, com o meu filho vestindo só um short. Ele nunca dorme só de short. Acho que ainda ia acontecer alguma coisa, mas os agentes penitenciários impediram.

R. : Alguns dos seus filhos já haviam dormido no presidio?
Gilmar: Não, mas sempre tem criança trabalhando na lavoura e, como elas ficam lá até tarde, acabam dormindo por lá. Mas não acontece nada.
Sebastiana: Minha filha de 15 anos pediu para dormir lá uma vez, mas não deixamos.

R. : A policia suspeita que vocês deixaram o menino em troca de favores.
Gilmar: Isso não é verdade. O Ribamar dava as coisas pra minha família, mas não pedia nada em troca. Ele só queria ajudar.
Sebastiana: O Ribamar disse que queria que o menino dormisse lá porque ele se sentia muito sozinho à noite. Como ele sempre dava trabalho pra gente na lavoura da colônia agrícola, meu marido aceitou deixar o garoto lá. Ele prometeu nos dar emprego fixo na plantação.

R.: Em troca do que?
Gomes: Em troca da nossa amizade.

R.: Tem medo do que vai acontecer?
Sebastiana: A nossa vida desmoronou. Em uma semana tiraram os nossos filhos, nos acusaram de “vender” uma criança, tomaram nossa casa e agora estão dizendo que seremos presos.
Gomes: Se eu tiver que pagar pelo que fiz, pagarei.

R.: O senhor não sabia dos riscos que seu filho corria?
Gomes: Não, porque o Ribamar é meu compadre, como se fosse da família.

R.: Mas o Ribamar, assim como o senhor, tem condenação por estupro de menores.
Gomes: Eu não sabia disso. Nem sei se é verdade. Queria mesmo pedir perdão pelo que fiz e gostaria, se possível, que alguém me arrumasse um bom advogado. ”

E ele vai precisar…
Momentos depois dessa entrevista Gilmar Francisco Gomes recebeu as pulseiras de prata da lei e passou para o lado de dentro da grade! O seu ‘compadre’ também.

Eu não gostaria de tirar o foco social desta triste história, falando em política… Mas não posso me abster! Não posso deixar de colocar uma pulguinha atrás da orelha do leitor: daqui a exatamente um ano, eu, você, o Gilmar, a Sebastiana estaremos escolhendo nossos novos governantes!

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