Homem Lobo da Perimetral quer trabalhar

DSC04766Levantei mais cedo nesta quinta para tomar café com o Homem Lobo da Perimetral. Quando cheguei à sua ‘casa’ ele não estava mais nos braços de Morfeu, mas ainda estava debaixo das cobertas. Reticente, introspectivo e ressabiado demorou alguns minutos para sair da toca… Das duas: da toca cheia de trapos e papelão enegrecida pela fumaça dos pneus e madeira queimados durante a noite, e da toca da mente! Tinha medo de falar! E foi incialmente agressivo. Minha presença o incomodava. Ele queria me ver pelas costas! Foram necessários uma boa dose de paciência, de argumentos e uma cédula de ‘mico leão dourado’ para puxar-lhe língua e ouvir seu nome!

Rogerio Oliveira, nasceu em São Paulo, diz que tem 46 anos, não deve nada a justiça – percebe-se pelo perfil e modus vivendi –  e está há mais de dez anos no ‘trecho’! Só no bueiro da Perimetral, segundo o cidadão que caminha por ali diariamente e se sensibilizou com sua ‘sofrencia’, desde outubro do ano passado!

DSC04770– Quando foi que você começou essa vida, Rogerio?

– Ah, já tem uns dez anos…

– E por quê?

– Cachaça…

– …!

– Eu trabalhava em São Paulo… Mas comecei beber muito. Perdi o emprego, minha mãe morreu. Não sei do meu pai. Aí eu saí andando… Fui para Santa Catarina. Faz tempo que estou no ‘trecho’.

DSC04778– Você ainda bebe?

– Não. Parei.

– Onde você passa o dia?

– Por aí… ganho alguma coisa. Os amigos – pessoas que lhe dão comida – ajudam. De noite venho pra cá…

– Pra quê a fogueira toda noite?

– Espanta bicho… Aqui não tem luz! Serve para clarear ‘minha casa’…

– O que você quer…?

– Só quero trabalhar… Mas ninguém dá emprego. Pego uns ‘bico’! Capino quintal… Faço artesanato.

– Como você se alimenta…?

– Os amigos dão comida…

DSC04782-… E banho..?

– Não tem jeito, né…! A gente vai levando…

– Você procurou a assistência social?

– Conheço ninguém, não…

– Voce tem algum sonho, alguma esperança?

– Eu queria trabalhar… Estou tentando melhorar um pouco – a aparência – para arrumar um emprego!

Respostas prontas Rogerio tem claras e audíveis na ponta da língua. No entanto, quando se aventura a falar mais de sua vida passada e seus sonhos, ele – parece ter vergonha dos sonhos – fala tão baixo que somente ele ouve e entende. Uma coisa ficou bem clara na curta entrevista em pé, na porta da ‘casa’ enegrecida pela fumaça, ouvindo o vuuum-vuuum-vuuum dos carros passando a 90 por hora defronte a placa pregada no poste indicando 60, poucos metros acima na avenida: Rogerio, o Homem Lobo da Perimetral, sonha trabalhar, sair do bueiro, voltar à vida de anos atrás. Voltar para perto dos parentes em São Paulo.

DSC04784  Outra coisa também está bem clara: Se ele não receber um ‘incentivo’, o único lugar para o qual ele irá, será o fundo do bueiro! O mais longe que o  cidadão Rogerio Oliveira – ou seja lá qual for seu nome – irá será o outro lado do bueiro por baixo da pista dupla, em direção ao abandonado Estádio “Minduinzão”!

Quando começou morar no bueiro, tanto bueiro quanto o morador tinham outra aparência, como se vê nas fotos tiradas em outubro passado e neste 28 de maio! A cada dia a vida do homem lobo se parece mais com a aparência do bueiro… Sujo, maltrapilho, assustador… As pessoas correm léguas dele! Sem o “incentivo” de um órgão publico, mantido com dinheiro de impostos, só resta ao “Homem Lobo da Perimetral” afundar ainda mais na degradação social!

DSC04779Que pena que ele veio parar em Pouso Alegre, numa cidade tão pobre…!!!

 

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