Vovó Dolores e o netinho de Varginha…

Velhinha III

Estava dona Dolores, 85 anos, sentada numa confortável cadeira de palha na varanda de sua casa no bairro Cruzeiro em Pouso Alegre lendo o livro “Meninos que vi crescer”, da lavra deste blogueiro, no final da manha desta segunda 01, quando o telefone tocou… Estava tão concentrada na leitura da historia “Julio Dezessete e o assassinato do menino Neylor” que pensou que o telefone estava tocando dentro da historia… Só quando tocou pela segunda vez ela se deu conta de que era o velho aparelho da seleta ao lado da janela, e então, depois de secar uma lagrima marota do canto do olho – esse livro deve ser bom mesmo, hein? Está fazendo até velhinha chorar! – se levantou e foi atender o telefone! Do outro lado da linha uma voz de adolescente à trouxe à realidade…
– Oi vó… Sua benção! É o seu netinho Pedro, filho da Marlene! Lembra?
– Pedro…!?
– É Vó, o Pedrinho da Marlene, de Varginha!
– Ahn… Deus te abençoe meu filho. Tá tudo bem com vocês?
– Mais ou menos vó. A gente estava indo visitar a senhora, mas a mamãe bateu o carro num barranco perto de Poço Fundo…
– Meu Deus meu filho! Vocês estão machucados?
– Calma vó. Tá tudo bem. Só a mamãe que machucou um pouco. Ela está no hospital. Eu estou bem. Mas estamos precisando de um dinheiro para consertar o carro e pagar as despesas. A mamãe pediu para senhora depositar dois mil reais na conta dela…!
– Ai meu Nosso Senhor do Passos! Eu vou agora mesmo ao banco aqui perto depositar o dinheiro. Mas vocês estão bem mesmo?
– Não se preocupe vovó… Estamos bem. Só precisamos mesmo do dinheiro para pagar os estragos. Ah, a senhora pode depositar três mil…?
Dolores tirou os óculos de leitura, ajeitou o cabelo diante do espelho, colocou um xale sobre o ombro, trocou as pantufas cor-de-rosa por sapatilhas marrons, pegou a surrada carteira de couro de gato, desceu calmamente a rua até o caixa eletrônico na Avenida Prefeito Olavo Gomes de Oliveira, fez a transferência dos três mil e voltou para casa. Quando ia chegando a empregada veio encontra-la na varanda avisando que o almoço estava pronto.
– Ai, Gigi… Acho que perdi o apetite! Minha filha e meu netinho acabaram de sofrer um acidente quando vinham de Varginha…
– Como é que é? Filha de Varginha? Netinho? A senhora não tem filha que mora em Varginha… Seus netos são todos moços e moram em Brasilia…
– O Pedro minha filha, ele estava com a mãe vindo de Varginha e bateram o carro… Precisavam de dinheiro para pagar o conserto do carro. Eu fui ao banco depositar…!
Antes que Gigi retrucasse o telefone voltou a tocar. A sexagenária empregada que está na família de Dolores há mais de trinta anos atendeu… Era o mesmo “netinho” de antes.
– Oi vó! É o Pedrinho de novo… A minha mãe pediu para a senhora mandar mais dois mil! O estrago no carro foi muito grande!
– Quem é que está falando?
– É o Pedrinho filho da Marlene, vovó… De Varginha!
– Olha aqui rapaz… Dona Dolores não tem filha e nem neto que mora em Varginha!
Neste momento o telefone passou a emitir apenas o tum-tum-tum de aparelho desligado. O vigarista do outro da linha desistiu de continuar aplicando o golpe! Mas três mil reais já estavam na sua conta nalgum lugar do Brasil!
Contos do vigário como esse já fazem parte do dia-a-dia do brasileiro. A cada dia os vigaristas incrementam ou criam novos golpes para roubar o dinheiro dos incautos sem fazer força. Se colar, como colou com dona Dolores na primeira vez, colou! Se não colar, o prejuízo é pouco. Até porquê, é aplicado de longe através de telefone roubado, mesmo!
E o cidadão que fique atento, pois agora em dezembro, quando todas as contas engordam com a chegada do 13º salario, os vigaristas de plantão também querem receber o seu salario extra…!
No caso de dona Dolores que não tem filha com nome de Marlene e nem neto com nome de Pedrinho, o golpe funcionou pela metade. Ela perdeu três mil reais. Se a empegada Gigi não tivesse atendido ao telefone na segunda vez, o vigarista teria aplicado o “golpe à prestação”! “Golpe à Prestação”? Isso mesmo. Depois de extorquir dinheiro à distancia, por telefone, o golpista vendo que funcionou, tenta de novo… Não tem nada a perder mesmo! Veja o caso do “Primo Naldinho” acontecido tempos atrás no Jardim América!

“O Primo Naldinho e o Conto do Vigario à prestação

Aconteceu a algumas semanas. Dona Maria estava entre a cebola do arroz e o alho do feijão, no meio do almoço no Jardim América, quando o telefone tocou…
– Alô tia, é o seu sobrinho Naldinho, de Bragança Paulista, tudo bem? O primo taí…? Pede para ele me ligar, urgente. Anota aí, o numero…
Quando o filho chegou ela transmitiu o recado e ele imediatamente retornou a ligação.
-Primo? Ih rapaz, tô numa enrascada… Eu tava voltando para casa e o meu carro quebrou na estrada. Estou sem grana. Será que você não poderia me mandar o dinheiro para pagar o mecânico?
… E o filho de dona Maria, primo do Naldinho mandou R$ 1.200 reais… Depositou na conta da esposa do mecânico.
Uma hora depois o primo voltou a ligar. Já estava na oficina.
– Não sei nem como te falar isso, primo, mas o conserto vai ficar em R$3.100! Eu estou numa oficina na beira da estrada, sem dinheiro…! Será que você não pode inteirar pra mim grana?
E o filho de dona Maria, primo do Naldinho, novamente transferiu o valor para a conta corrente da mulher do mecânico!!!
As três horas da tarde Naldinho voltou a ligar para o primo, todo triste. Quase dava para ver as rugas de preocupação e desanimo no rosto dele e as lagrimas escorrendo…
– Ah, primo, tô ferrado…! É o motor que ‘tá’ fundindo. Vai ficar em seis mil reais! Será…
Outra vez o primo saiu de sua casa, foi até o banco e transferiu os R$6 mil para a conta da esposa do mecânico!!!
Lá pelas seis da tarde Naldinho, o sobrinho de dona Maria voltou a ligar para o primo. Desta vez não precisava de mais dinheiro, não. Nem para a gasolina. Ligou para agradecer o primo por tê-lo tirado da enrascada.
Oh, primo, você e tia foram super bacanas comigo. Ninguém teria feito por mim o que vocês fizeram – também acho – Amanhã cedinho estou chegando aí para tomar o café com vocês. Valeu primão…
As seis da manha do dia seguinte o telefone da dona Maria voltou a tocar. Era o Naldinho de novo!!!
– Ah primo, nem te conto! Estou parado numa blitz da policia rodoviária… Tô precisando de mais algum dinheiro…
… E o primo do Jardim America – pasmem meus estimados leitores!!! – desta vez não depositou mais dinheiro na conta da mulher do mecânico!!!
Isso mesmo. O filho de dona Maria, passou a noite matutando com seus botões: “Será que o primo Naldinho vai me pegar os R$ 10.300 que eu emprestei”? E chegou à conclusão que não depositaria nem mais um centavo na conta da mulher do mecânico caso ele voltasse a ligar…!
Depois de desligar o telefone na cara do primo Naldinho, o filho de dona Maria resolveu procurar na agenda o numero do telefone dele! Fez uma brilhante descoberta… O numero era outro! Ligou para ele e soube que seu carro estava descansando placidamente na garagem de sua casa em Bragança Paulista… Sem nenhum problema no motor!
Na semana seguinte, depois de tentar inutilmente cancelar as transferências bancarias para a conta da mulher do mecânico, o primo do “Naldinho”, filho de dona Maria, finalmente procurou a delegacia de policia para registrar queixa contra o falso Naldinho, pois achava que havia caído em um golpe…!!!
Não ria do primo do ‘Naldinho’… Este é o famoso golpe do “Alô, vovó”. Vem sendo aplicado todo dia em cidades de qualquer porte. Qualquer família pode cair no golpe. Especialmente primos de ‘bom coração’…”

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