Val e a Gang dos Najas

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No inicio da noite fria de 25 de julho de 1981 depois de deixarem o trabalho, dois amigos – Antonio Clesio Vieira e Miguel Alves Chaves – entraram em um boteco do bairro Jardim Noronha para dar uns amassos na loira gelada e espantar o frio no embalo de Severina do Popote. Depois de uma hora jogando conversa fora, por motivos banais se desentenderam e passaram a discutir. De um minuto a outro a honra entrou em jogo… Logo um desafiou o outro a terminar a pendenga “lá fora”! E saíram p’ra a rua. Minutos depois o desafiado recebeu 27 facadas entre o tórax e o abdome. Estava encerrada a pendenga entre os dois colegas de trabalho!
O sobrevivente do desafio naturalmente dobou a serra do cajuru para escapar do flagrante. Tres dias depois se apresentou espontaneamente na delegacia de policia na companhia de um causídico. Apesar da violência do crime, como não tinha antecedentes criminais e tinha residência e emprego fixo – trabalhava na prefeitura municipal – o assassino foi processado em liberdade. Em março de ’84 sentou-se no banco dos Réus. Foi condenado a 12 anos de cadeia. Cumpriu a maior parte da sentença no regime semi-aberto… Saia de manhã para trabalhar na prefeitura e voltava de tarde para o pernoite no velho Hotel da Silvestre Ferraz!
Quando o matador das 27 facadas no Noronha fulminou o colega de trabalho, ele tinha um filho de colo, com menos de três anos de idade, Val. O garotão cresceu forte, bonito e sadio. Em 1997 enturmou-se com os amigos Eduardo, Marcelo e Leusel, vizinhos no bairro São João. A ‘turma’ na verdade já era uma gang que brigava, roubava, fumava e vendia drogas e não pensava muito para matar. Para ingressar no bando o garotão boa prosa tinha que dar provas de sua valentia. Não foi muito difícil. Bastou incorporar o espírito do pai que quinze anos atrás matara o colega no Jardim Noronha.
Depois de abraçarem juntos ‘Severina do Popote’ num boteco do São João, Val expulsou um desafeto do boteco e disse que o mataria se ele voltasse ao local. Ele foi embora, mas logo voltou e os novos amigos, membros da Gang cobraram a ameaça;
– E aí mano? Vai matar o cara, ou vai amarelar?
Val não amarelou. Ali mesmo investiu contra o desafeto com golpes de faca tirando sua vida. Um crime bastante parecido com o de 81 no Jardim Noronha! Apenas mais econômico nas facadas! Estava pronto para ingressar na Gang dos Najas.
No decorrer de 97 foram inúmeros crimes cometidos pela Gang que rapidamente ganhou notoriedade no bairro – por causa do grupo de dança denominado “Najas”, cujos integrantes eram apenas artistas do bairro São João e fazia muito sucesso naquela época, se apresentando na região e em programas de TV – brigando, espancando, roubando e extorquindo pequenos estabelecimentos comerciais e pessoas! Traficando e queimando drogas. Quem se opunha aos seus domínios e vontades era covardemente espancado.
A Gang dos Najas agia e ganhava status de uma ‘mini-mafia’ no bairro! Naturalmente logo entrou nas prioridades da policia. Quando aconteceu o segundo homicídio envolvendo o nome da Gang, a policia civil fechou o cerco e conseguiu os mandados de prisão para o bando. E usou o mesmo impacto usado pelos criminosos, para combatê-los.
A recém criada equipe especial denominada DOE, Delegacia de Operações Especiais, investigou e deu cumprimento aos mandados de prisão e passou como um trator de esteira sobre a quadrilha. Um grande aparato foi montado e os vários mandados de prisão preventiva e buscas foram cumpridos simultaneamente. Val era o caçula e menos feroz do bando por isso apenas dois detetives, o experiente Lika e o novato Teobaldo cercaram sua casa na Três Corações. Val foi abordado no portão de casa e entrou em luta corporal com Teobaldo, conseguiu escapar e foi se refugiar dentro de casa. A.Clesio, pai de Val, não conhecia os hábitos do filho e sem entender por que os policiais queriam prende-lo, abriu fogo contra eles. Imediatamente a casa foi cercada pelos demais detetives. Na troca de tiros o pai do jovem membro da Gang acabou sendo baleado e morto dentro de casa.
Apesar da fama e dos estragos feitos pela quadrilha em poucos meses de atuação, ela teve vida efêmera e foi desmanchada ainda em 1997. Exceto Eduardo Gonçalves que ainda não tinha 18 anos, todos os membros da quadrilha foram condenados a 14 anos de prisão e foram se hospedar no velho Hotel da Silvestre Ferraz.
Leusel fugiu tempos depois e nunca mais foi visto. Tem-se noticia de que está gozando a vida na cidade baiana de Xique-Xique. Eduardo deixou a prisão ao completar 21 anos, mas logo voltou por outros delitos e jamais deixou as trilhas do crime. Seu irmão Marcelo, depois de liderar a cadeia e decidir vidas no velho hotel, foi transferido para a penitenciaria Nelson Hungria em Contagem, em 2003 e lá ficou até 2009. Quando saiu em liberdade condicional, descumpriu as condições e já está ‘pedido’. O ultimo membro a entrar para a Gang dos Najas em 97, foi o único a mudar de vida, depois de todas as chances possíveis que um homem pode receber.
Será que mudou mesmo?
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