Renanzinho… O psicopata da cabeleireira

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Nove e quarenta de uma quinta feira abafada de agosto, véspera de aniversario do padroeiro da cidade. O jovem alto, forte, cabelos curtinhos subiu a Dr. Lisboa lentamente, sem destino, olhando para todo lado sem olhar para ninguém. Não tinha nenhum compromisso definido. Quando cruzou o semáforo da Rua Marechal de Teodoro e pisou no passeio defronte o prédio do 17º Departamento de Policia Militar, institivamente olhou para a avenida e seus olhos pararam na rua em frente a Vieira de Carvalho… Mais precisamente num sobradinho onde funcionava um salão de beleza. Uma lembrança o atraiu. Encostou-se ao poste em frente o quartel e ficou ali por alguns instantes, olhando para a plaquinha do sobradinho da estreita rua. Suas lembranças o levaram há alguns anos atrás. Havia cometido um furto na galeria em frente e acabara sendo preso pela PM algumas horas mais tarde. Não tinha mais a res furtiva e a policia não tinha prova da sua culpa… A menos que alguém o apontasse como autor do furto. E não é que alguém apontou! A policia parara a viatura ali perto e chamara algumas pessoas para ver se alguém o reconhecia…
– Foi ele mesmo que eu vi saindo da loja… – Disse a bonita senhora de meia idade.
Graças a esta afirmação a policia ‘tirou-lhe o serviço’. Ele assinou mais um Afai, o trigésimo oitavo da carreira, talvez, desde os dez anos de idade! E mais uma vez foi se hospedar na ‘cela de menores’, no pátio do velho Hotel da Silvestre Ferraz. Mais 45 dias dividindo aquele espaço de 3×3 – incluindo o banheiro – com outros 5 ou seis delinquentes. Ele nunca mais voltara naquela rua desde então, mas soubera que a ‘coroa’ que dissera “foi ele mesmo” era uma cabeleireira que tinha um salão ali em frente a Galeria Portal. No começo tivera muita raiva dela e pensara em vingança. Mas sua vida já era amarga demais para cultivar mais um sentimento negativo. Acabou esquecendo a cabeleireira cujo nome nem sabia. Agora ali na esquina, olhando para a placa pendurada no velho sobradinho tomara conhecimento do seu nome.

“Ester: Cabeleireira”!

De repente o ‘perreio’ que passara naquele cubículo na ‘esquina’ do pátio interno do presidio, olhando através das grades da janelinha para a cela das mulheres e das grades da porta remendada de solda para as celas dos presos menos afortunados ou em triagem, vieram à tona. Ficou alguns minutos ali encostado no poste pensando na vida, sentindo uma certa angustia. Apesar de, depois daquela bronca ter assinado outras, já ter atingido a maioridade penal e estar a mais de ano morando no novo Hotel do Juquinha, aquela fita na galeria foi marcante. Na verdade não se lembrava mais o que havia furtado, mas se lembrava nitidamente porque fora preso;
“Foi ele mesmo” – dissera a cabeleireira.
Ele só tinha 19 anos, mas já estava na ‘caminhada’ há quase dez! Morando uma hora com o pai, outra hora com a mãe, outra com uma tia, outra na rua, outra por conta do Conselho Tutelar internado em clinicas…! Apanhou do pai, da mãe, ouviu as chorumelas da tia, apanhou dos moleques da rua, tomou puxões de orelha dos conselheiros, do juiz da infância, do promotor da infância! Passou diversas temporadas de 45 dias atrás das grades, apanhou de traficantes… Dormiu debaixo da ponte, foi amarrado em casa com correntes para não ir pra rua…!
– É, a cabeleireira não tem nada a ver com minha vida tão dura… Mas também não tinha que se intrometer! – pensou ele incógnito encostado no poste ali a poucos metros da porta do quartel, olhando para a placa do salão de beleza: “Ester Cabeleireira”…
Já ia se ‘despedir’ do poste e seguir seu caminho sem rumo tentando esquecer os pensamentos ruins, quando…

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