O dia em que fumei maconha e a Chacina em Bom Repouso

cigaro de maconha

A noite mal havia acabado de estender seu manto negro quando sentamos no pequeno restaurante popular na entrada de Cambuí. Das sete ou oito minúsculas e toscas mesinhas, acho que metade estavam ocupadas com pessoas simples, compatíveis com a classificação do estabelecimento; viajantes de passagem ou visitantes das cidades vizinhas. Antes de pedirmos o trivial ‘à la carte’; arroz, feijão, macarrão, bife de vaca e salada, pedimos uma cerveja. Não tínhamos pressa. Tínhamos toda a noite para comer, beber, fumar – inclusive maconha – e rodar sem rumo pela cidade. Com o sotaque cantado de belorizontino de Conselheiro Lafaiete do Luis Neves dos Passos e o jeitinho manhoso de falar do pequenino e vivido Romeu Norte Pereira, de Uberaba, conversamos à vontade sobre tudo e sobre nada, especialmente sobre futebol. Quem ouvia o papo descontraído, percebia logo que éramos ‘de fora’. No final da refeição, como bons mineiros pedimos o cafezinho e acendemos um cigarrinho… de maconha! Não me pergunte que gosto tem… Eu havia parado de fumar Marlboro há pouco mais de ano, por que tinha ânsia de vômito a cada tragada… Não iria tragar justamente a erva maldita! Me contentava apenas com o inconfundível cheiro doce da erva. E a fumacinha quase incolor, cheirando a mato verde queimado, começou discreta em torno da mesa e logo inundou o pequeno salão. Neste momento apenas uma mesa além da nossa ainda permanecia ocupada por dois rapazes. Um deles se despediu e foi embora. O que ficou levantou-se e veio à nossa mesa, puxou prosa, puxou uma cadeira, virou-a com o encosto para a mesa e sentou-se.
Como é fácil o relacionamento entre pessoas que falam a mesma língua… Ou usam a mesma droga!!! – Celso era seu nome. O sobrenome devia ser Andrade ou Brandão, pois era morador de Bom Repouso. Em poucos minutos Romeu, Luiz Neves, Celso e eu já parecíamos quase amigos de infância… E o cigarrinho do capeta já havia virado cinzas! Quando ameaçamos atirar longe a bituca, Celso quase deu cria;
– Tá maluco, mano!!! A cidade tá na maior secura! Se Zelão não chegar esta noite com a bagaça, vamos passar o fim de semana na fissura! – E guardou no bolso a minúscula ponta de maconha já com o asqueroso e fedorento cheiro e gosto de cinza.
Entramos na Brasília branca com placas de Santo André – aquela mesma que eu batera à 160 por hora perto de Campinas quando prendi “Peixinho… e eu” – e durante quase uma hora rodamos a cidade. Fomos a botecos e lanchonetes do centro, da rodoviária e principalmente da zona boemia, na rua esburacada na margem esquerda da Fernão Dias. Conhecemos todos os pontos de distribuição de drogas da cidade e a maioria dos seus usuários. Parecia um mundo paralelo povoado por extraterrestres, identificados a distancia, na penumbra, as vezes apenas pela silhueta. Ao ver um nóia surgir lá longe na esquina ou mesmo no meio do povão Celso já dizia seu nome e até onde ele estava indo ou vindo. Pelo jeitão jongolhó de andar era possível afirmar o que ele levava no bolso largo da calça ou se estava…

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